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Crônica — As pessoas de papel

Há muitas fantasias para coisas que não são reais

Adamy Gianinni
Adamy Gianinni
Sou jornalista e escritor, com formação em mídias digitais e gestão pública, e atualmente me especializando em jornalismo tecnológico. Minha missão é analisar, com independência e...
2 Minutos de leitura
Imagem gerada por IA (Créditos: Adamy Gianinni / OpenAI)

Tem dias que eu olho em volta e só vejo papel. Pessoas de papel, promessas de papel, instituições de papel. Tudo parece impresso numa gramatura frágil, dessas que rasgam só de encostar. É como viver dentro de um folheto de supermercado: colorido, chamativo, mas vencido antes mesmo de chegar à porta.

Já tentei me encaixar. Fiz a pose certa, vesti o discurso certo, balancei a cabeça no ritmo da conveniência. A cidade gosta disso: gente plastificada que sabe sorrir sem mostrar os dentes de verdade. Mas toda farsa tem prazo de validade — e eu cansei de atuar num teatro onde ninguém mais assiste.

A verdade? Tem horas que dá vontade de sumir. Não é fuga. É descompressão. É sair de cena antes que a cortina caia com tudo em cima.

O problema é que quando você some, o mundo não procura você — procura a versão que imaginava de você. Como no filme Cidades de Papel. Margo não era a musa misteriosa. Era só uma garota tentando quebrar o script. Mas ninguém quis enxergar isso. Preferiram a lenda à mulher.

Eu entendo a Margo. Às vezes, também quero que me esqueçam como produto e me encontrem como pessoa. Não esse personagem com crachá e CPF. Mas o ser humano por trás da pauta, da denúncia, da persona pública. Porque a cidade que construíram pra mim não é de concreto. É de expectativa.

E expectativa demais pesa mais que parede.

No fim, talvez a maior coragem não seja desaparecer. É permanecer sendo real, mesmo quando tudo à sua volta é feito de papel.


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Sou jornalista e escritor, com formação em mídias digitais e gestão pública, e atualmente me especializando em jornalismo tecnológico. Minha missão é analisar, com independência e rigor, como política, tecnologia e mídia moldam a sociedade contemporânea — sempre com transparência, senso crítico e compromisso com a informação de qualidade.