Publicidade

LGPD nas igrejas: o que pode e o que não pode em gravações, transmissões e eventos

Como a Lei Geral de Proteção de Dados se aplica às transmissões religiosas e à cobertura jornalística de eventos de fé

Adamy Gianinni
Adamy Gianinni
Sou jornalista e escritor, com formação em mídias digitais e gestão pública, e atualmente me especializando em jornalismo tecnológico. Minha missão é analisar, com independência e...
4 Minutos de leitura
Transmissão de missa (Créditos: Adamy Gianinni)

Com a vigência da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), igrejas e organizações religiosas também passaram a ter responsabilidades quanto ao uso de imagens, vídeos, áudios e dados pessoais. Ainda que o propósito seja espiritual ou comunitário, isso não exime essas entidades do dever legal de proteger os direitos dos fiéis e participantes.

Neste artigo, explico de forma objetiva o que é permitido, o que exige cuidado e como a LGPD se aplica também às atividades da imprensa.

Gravações e transmissões de cultos ou missas

É comum igrejas filmarem e transmitirem cultos, missas e eventos religiosos, seja ao vivo, seja posteriormente. Aqui, o tratamento de dados pessoais está presente — afinal, vozes, rostos e expressões podem identificar indivíduos.

Pode gravar e transmitir? Sim, com limites.

  • Captação geral do ambiente (planos abertos, sem foco individual): permitida, desde que haja aviso prévio de que o local está sendo filmado.
  • Voluntários ou participantes com destaque na câmera: requerem consentimento explícito, pois são claramente identificáveis e parte ativa da transmissão.
  • Crianças e adolescentes: é obrigatório o consentimento dos pais ou responsáveis legais.

Como garantir conformidade:

  • Exibir avisos visuais no local informando que há gravação e transmissão.
  • Obter termo de consentimento assinado dos voluntários que participam de forma destacada (leitores, músicos, ministros, etc.).
  • Oferecer canal de contato para revogação do consentimento.

Redes sociais e uso público do material

Se a igreja publica vídeos e fotos nas redes sociais, YouTube ou materiais promocionais, os cuidados devem ser redobrados:

  • Evite identificar fiéis individualmente sem autorização.
  • Prefira imagens institucionais, planos gerais ou de pessoas que já consentiram.
  • Se alguém pedir para remover sua imagem, a solicitação deve ser atendida.

E a imprensa? A LGPD se aplica?

A resposta é: não, desde que o tratamento de dados seja exclusivamente para fins jornalísticos.

O que diz a lei:

A LGPD não se aplica ao trabalho da imprensa quando este tiver caráter jornalístico, artístico ou acadêmico (art. 4º, II, “a”).

Portanto:

  • Um jornalista pode fotografar, filmar e entrevistar durante uma missa ou evento religioso sem necessidade de consentimento individual.
  • A imprensa tem respaldo legal para realizar a cobertura de eventos públicos ou de interesse coletivo, desde que respeite a dignidade, a honra e a imagem dos envolvidos.

Limites para a imprensa:

  • O uso deve ser claramente jornalístico — se o material for utilizado para outros fins (ex: publicidade, institucional), a LGPD pode voltar a valer.
  • O respeito à ética jornalística e aos direitos fundamentais é essencial, especialmente no caso de crianças, idosos ou pessoas em situações vulneráveis.

Responsabilidade da igreja: controlador de dados

A igreja, ao filmar, armazenar e divulgar conteúdo com dados pessoais, atua como “controladora de dados” perante a LGPD. Isso significa que deve:

  • Ter uma política de privacidade clara;
  • Nomear um responsável pelo tratamento de dados (encarregado ou DPO);
  • Estar preparada para atender pedidos de acesso, correção ou exclusão de dados pessoais.

Conclusão

A LGPD não é um obstáculo à fé nem à comunicação religiosa, mas um instrumento de respeito à privacidade e à dignidade das pessoas. Igrejas podem (e devem) continuar transmitindo sua mensagem — mas com responsabilidade, transparência e atenção às normas legais.

Já a imprensa, protegida por exceção legal, mantém sua liberdade de atuação — mas também deve agir com ética e bom senso.


Descubra mais sobre Adamy Gianinni

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Compartilhar este artigo
Sou jornalista e escritor, com formação em mídias digitais e gestão pública, e atualmente me especializando em jornalismo tecnológico. Minha missão é analisar, com independência e rigor, como política, tecnologia e mídia moldam a sociedade contemporânea — sempre com transparência, senso crítico e compromisso com a informação de qualidade.